Publicado no http://politicaecia.nominimo.com.br/?p=525
Brasil, século 21, ano de 2007. Explode a polêmica. Adolescentes podem se beijar sem namorar? “Ficar” é moralmente defensável? E o sexo antes do casamento: seria o princípio do fim da família? E a mídia, com sua insistência em desrespeitar a castidade? Terá a sociedade moderna chegado ao fundo do poço?
Repetindo: estamos no Brasil do século 21, ano de 2007 – embora as polêmicas levantadas pela visita do papa Bento 16 estejam a ponto de negar a própria passagem do tempo. Aliás, por que não discutir o maiô de duas peças e a pílula anticoncepcional? A hora é essa.
Os dogmas do catolicismo estão aí como sempre estiveram, e sempre estarão. O que espanta é a sociedade moderna entrar espontaneamente nesse túnel do tempo. Se fosse uma reviravolta da fé, ou mesmo um recrudescimento moralista, tudo bem. O chato é constatar que tudo não passa de futilidade espetacular, mero desejo de viver o “show do papa”.
Cruel ironia. A mídia que Bento 16 critica é a mesma que o mantém vivo como líder político. A mística que hoje cerca o papa é acintosamente maior do que a sua real importância. Fora dos limites do rebanho católico, o sumo pontífice é hoje um defunto político, arrastado por aí como um Quincas Berro D´Água por essa cultura do espetáculo.
É compreensível. A possibilidade de receber um líder iluminado, cujas palavras brotam com um lastro raro de sabedoria e densidade política, é tentadora para qualquer grupo humano. No caso de Bento 16, infelizmente, esse ritual está mais para claque de programa de auditório (“Devo excomungá-los, Lombardi?!”). O poder político do papa hoje é comparável ao do Rei Momo.
Não se trata de menosprezar a Igreja Católica. A questão é que a figura do papa, ao longo do tempo, cresceu e ultrapassou as fronteiras do catolicismo e da própria religião. Nessa linha, pode-se dizer que João Paulo II foi, a rigor, o último papa. Pelo menos, aquele com ascendência suficiente para influenciar um evento histórico como a queda do Muro de Berlim, que mudou o mundo. Bento 16 não tem a menor chance de afetar nem a novela iraquiana.
Não é culpa dele. Essa liderança já vinha se desmilingüindo no papado anterior, o que João Paulo II compensou com um carisma incomum e uma força missionária estupenda.
Peregrino incansável, aquele foi um papa que colocou, por assim dizer, o espírito na sola dos pés.
O papa está perdendo importância no mundo, assim como outros personagens, como o secretário-geral da ONU, vão ficando para trás na hierarquia das lideranças. Nada demais, apenas a roda da História reciclando seus símbolos. O que constrange é a sociedade insistir em idealizar um mito empalhado.
O resultado é uma onda de hipocrisia inundando o debate público como há muito não se via no Brasil. A questão do aborto, por exemplo, sempre delicada, tem sido debatida há pelo menos vinte anos à luz do dia, longe dos tabus, incorporando responsavelmente as questões de saúde da mulher e planejamento familiar – se não na lei, pelo menos na cultura. O país inclusive se debruça hoje sobre uma novíssima geração de desafios éticos, como o uso de células embrionárias para pesquisa de novas terapias. Parece inacreditável que, a essa altura, volte-se de repente a falar do aborto como sacrilégio ou não sacrilégio, num revival medieval de carona no papamóvel.
A bênção, Bento 16. Seja bem-vindo, santo padre. Mas que sua visita nos poupe de discutir se pegar na mão das moças e dançar de rosto colado é pecado venial. O purgatório é para outro lado.
PS: Adolescentes, divirtam-se enquanto é tempo.
Publicado por Guilherme Fiuza - 13/05/07 12:01 AM
quarta-feira, maio 16, 2007
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