O dom do Duda
04.03.2006
Não vou dizer que “correm na Bahia...” porque nem boato tem essa disposição toda na terra de Duda Mendonça, mas andam ganhando força por lá algumas versões tipicamente baianas sobre os 300 mil dólares que ninguém sabe como chegaram à conta Dusseldorf, aberta pelo publicitário num banco em Miami. “Oxente, deve ser grana de briga de galo, meu rei”, dizem no Mercado Modelo. “Vai ver é lavagem de dinheiro dos trios elétricos de Salvador, seu menino!” A turma que faz gosto pelo conterrâneo põe a culpa na danada da matemática. “Sabe quantos trezentos mil dólares cabem dentro de dez milhão de real, bichinho?” Impossível para qualquer baiano que não seja parente do ACM controlar uma conta dessas no canhoto do cheque.Só se fala disso no Congresso: de onde vieram os 300 mil dólares que sobram na conta do marqueteiro? Ninguém em Brasília acredita que o crédito tenha origem na generosidade de um amigo que não quer aparecer – Duda já foi assim com o Maluf –, em bolada ganha no jogo do bicho ou em dinheiro faturado por sua agência em publicidade das Casas Bahia ou da Casa & Vídeo, sei lá! Quem tem 10,5 milhões depositados por Marcos Valério numa off-shore com sede nas Bahamas, pelamordedeus, não deve ter nada muito mais grave a esconder.Tentar pegar publicitário pela mentira – Duda de fato não declarou a quantia exata do rolo na CPI dos Correios –, francamente, a mentira é a alma da propaganda, um dom de quem é do ramo.
Ou será que alguém acredita que exista pasta de dentes com gosto da vitória, sabão que lave mais branco, terra de Malboro, hidratante da Hebe Camargo, sabonete das estrelas, cerveja que desce redondo, sandália que dá férias a seus pés... O melhor plano de saúde é viver? O melhor do Brasil é o brasileiro? Gente de propaganda diz qualquer coisa de efeito. Perguntado sobre as razões que o levaram a tirar 0,5 ponto da Mangueira no quesito Conjunto, o publicitário carioca Lula Vieira disse que a Estação Primeira estava verde-e-rosa demais.
Imagina se fossem cobrar verdade nas coisas que Nizan Guanaes diz em português ou em iorubá.
Meus amigos Armando Strozenberg e Washington Olivetto mentem praticamente todos os dias, coisa que, aliás, lhes confere um charme todo especial.
Já trabalhei em agência se publicidade, a falecida Esquire, sei como são montados os teatros para impressionar cliente e faturar o correspondente a meses de trabalho por uma idéia concebida 15 minutos atrás. Os caras são campeões!
Não há mentira que Duda Mendonça não saiba explicar, ele é do ramo. Se não o pegarem por causa da verdade que já veio à tona, babau, melhor arrumar outro bode expiatório.
Fonte: No Minimo
sábado, março 04, 2006
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